01 octubre 2007

Menos, Presidente, menos

Por Barbara Gancia

Para Lula, o Irã deve desenvolver urânio. Só falta implorar de joelhos para que Chávez integre o Mercosul

Folha

O elegante discurso do protótipo de ditador Hugo Chávez, no ano passado, durante a Assembléia Geral da ONU, conseguiu, quem diria, ser superado em 2007, em arrogância e impostura, por outro demagogo, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.

Lembro da época da eleição que levou Ahmadinejad ao poder. Só a anta Christiane Amanpour, festejada correspondente da CNN (que é nascida no Irã, e cujo pai, que trabalhava para Rehza Pahlevi, fugiu com a família com a queda do Xá), não percebeu o óbvio. Enquanto ela entrava em flashes na programação apostando que Ahmadinejad perderia, os iranianos já festejam nas ruas a vitória do lunático populista...

Mas não tergiversemos. Estamos aqui hoje, sobretudo, para falar das declarações do tosco iraniano frente a uma platéia de estudantes da Universidade Columbia (note: Paulo Francis, que na noite de ontem deve ter ceado sobre uma nuvem com Cézanne, Billy Wilder e Cole Porter, sempre ensinou que não existe uma instituição denominada Universidade "de" Columbia). Especialmente sobre as mais descaradas, que dizem respeito à existência de homossexuais no Irã. Já vivi o suficiente para saber que minorias contam sempre com um percentual que varia entre 10% e 20% da população. São entre 10% e 20% de alcoólatras, 10% e 20% que conseguem compreender uma obra de arte, 10% e 20% que gostam de gatos, e assim por diante, em qualquer parte do mundo. Por que haveria de ser diferente no Irã, justamente no Irã, a antiga Pérsia, reinado tão rico em prosa e verso homoeróticos?

Basta dar uma passeadinha rápida por sites de busca dos mais banais para verificar que a declaração de Ahmadinejad, de que não existem homossexuais no Irã, não passa de aberração. Há abundantes evidências nos textos clássicos para contradizê-lo, especialmente nos "ghazals", os poemas de amor produzidos por Saadi Bustan e Gulistan, dois dos maiores poetas persas.

E quem Ahmadinejad acha que está enganando, quando completa a farsa dizendo que, no Irã, as mulheres são "as mais livres do mundo"?
Se fosse verdade, será que a advogada iraniana Shirin Ebadi teria conquistado o Prêmio Nobel da Paz em 2003, por seu trabalho pela igualdade das mulheres iranianas?

Agora chegamos ao xis da questão. Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo antidemocrático presidido por esse homúnculo que desdenha das mulheres, cujo regime envia homossexuais para a forca, que nega a existência do Holocausto e que fala na destruição do Estado de Israel a cada oportunidade que se apresenta merece ter a liberdade para enriquecer urânio.

Depois de seu discurso na assembléia da ONU, que, diga-se, passou em branco, Lula afirmou o seguinte: "Se o presidente do Irã quer enriquecer urânio, tratar a questão nuclear como uma coisa pacífica, como o Brasil faz, é um direito do Irã".

Cuma, presidente? Sei que a cartilha pueril da esquerda reza que se deve sempre tomar posição contrária a dos imperialistas bebedores de Coca-Cola, mas apoiar um regime que prega a destruição do vizinho, que patrocina o terrorismo e que, ainda por cima, não se submete às inspeções da AIEA (Agência Internacional da Energia Atômica), não é ir longe demais com a demagogia?

Cortesía de Rivadávia Rosa

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